Em regra, somos imediatistas. Pensamos apenas naquilo que pode acontecer amanhã, e não ao longo de décadas. Mas a preocupação com o futuro precisa entrar em nossas cogitações. É o que me acode à mente depois de ler “O que devemos ao futuro: como as escolhas de hoje podem garantir o amanhã”, do filósofo escocês William Macaskill. O título deveria ser também lido de outra maneira: “como as escolhas de hoje podem acabar com o amanhã”.
A responsabilidade pela OIDA – Operação Integrada em Defesa das Águas, cometida à Seclima – Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas, é uma dessas opções irrecusáveis e inadiáveis. A única represa abastecida com água paulistana é a Guarapiranga. Se ela continuar a ser invadida por construções, nem sempre toscas, mas até de casas com piscina e píer, não haverá água para os paulistanos beberem. E isso não é para o próximo século. É para daqui a pouco.
Não existe, no caso, qualquer incerteza em relação ao futuro, que limite nossa capacidade atual de mensurar o impacto de longo pro daquilo que fazemos ou deixamos de fazer.
A ciência e a tecnologia estão à disposição. O diagnóstico sobre a água da Guarapiranga é mais do que preocupante. Ela está contaminada de coliformes fecais e de todos os fármacos que não desaparecem no tratamento. Além dos microplásticos, que estão até no nosso cérebro.
MacAskill oferece aos céticos um método para lidar com uma burra incerteza: o valor esperado, a significância, a persistência e a contingência. Qual a chance de algo ocorrer no futuro se eu tomar – ou não tomar – uma decisão agora? Qual o significado disso para mim e para outras pessoas? Qual o impacto disso?
É uma questão principalmente ética. Trata-se de hierarquizar a vida das pessoas que ainda não nasceram. Elas não são menos importantes do que nós. O amanhã de nossos netos, bisnetos, trinetos e de quem mais vier está em jogo, a depender da seriedade com que encaremos a urgência da vedação de maior densidade demográfica na região dos mananciais.
Como seremos julgados pelas futuras gerações? Embora não estejamos aqui dentro de alguns anos – ou até menos – o futuro importa. E depende de nós.
*José Renato Nalini é Secretário-Executivo de Mudanças Climáticas de São Paulo.
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LUCIANA FELDMAN
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