Impulsionada por uma crescente demanda, a indústria de carne de frango é uma das maiores do mundo — e o Brasil ocupa a posição de líder global nas exportações desde 2004. Recentemente, o país alcançou o segundo lugar como produtor, representando hoje 14,5% da produção mundial e 37,9% das exportações totais. No mercado interno, essa é a carne mais comprada pelos brasileiros, com um consumo per capita de 45,1 kg de frango em 2023.
Outro dado que chama a atenção é o fato de o Brasil ser o maior exportador de frango halal do mundo, vendendo mais de 2,2 milhões de toneladas para mais de 30 países, o que equivale a 42,8% do total dessas exportações. Embora o país seja um player global na produção e exportação de frangos de corte, e considerando a crescente importância do bem-estar animal nos países compradores, a ausência de uma política eficaz de boas práticas na produção ainda é uma das principais adversidades da indústria avícola nacional — dentre muitos outros, conforme aponta o relatório “Observatório do Frango”, lançado pela ONG Alianima.
O estudo traça um panorama da produção brasileira de carne de frango, enumerando os principais pontos críticos de bem-estar animal na avicultura de corte. Aspectos como a lentidão corporativa em assumir mudanças estruturais em suas linhas de produção, a ineficiência regulamentar da legislação brasileira sobre o bem-estar desses animais são os principais desafios para o setor, segundo Steffan Edward, zootecnista e especialista em bem-estar animal da Alianima.
Além disso, o relatório destaca que a demanda por práticas empresariais éticas e sustentáveis está em ascensão tanto no mercado interno quanto no externo, e isso requer das grandes corporações uma atuação como modelos a serem seguidos no setor. Basta ver que a B3, a maior bolsa de valores da América Latina, possui índices que diferenciam as companhias com boas práticas de governança corporativa, sustentabilidade e responsabilidade social das demais empresas listadas, para chamar a atenção de investidores preocupados com ESG (ambiental, social e de governança).
“A adoção de padrões mais elevados de bem-estar animal não apenas ajuda a atender a essas expectativas, mas também fortalece a imagem dessas empresas como líderes do setor, capazes de antecipar e responder às mudanças no mercado. Quando gigantes do segmento tomam decisões exemplares, elas influenciam positivamente toda a indústria.”, salienta Patrycia Sato, médica veterinária e diretora técnica da Alianima.
Ela lembra ainda que bilhões de frangos são submetidos a condições industriais que podem comprometer drasticamente a saúde e qualidade de vida das aves. De acordo com o relatório, os principais pontos críticos que prejudicam o bem-estar de frangos de corte são:
Crescimento acelerado – crescem de forma desproporcional ao restante do corpo, causando desequilíbrios, dificultando a locomoção e até mesmo a alimentação e hidratação dos animais, gerando também frustração e estresse crônico;
Alta densidade no galpão – prejudica o conforto físico e manifestação do seu repertório comportamental natural, além da aglomeração de indivíduos em volta dos comedouros e a deterioração acelerada da cama, o que consequentemente repercute na saúde das aves;
Ambiente pobre e insalubre – a falta de recursos no ambiente, como poleiros ou plataformas e material para bicagem, promove frustração e inatividade das aves. Falta de atenção à qualidade da cama pode causar danos às patas e pele dos animais, além de afetar a qualidade do ar.
Pré-abate doloroso e ineficaz – os frangos são pendurados vivos e conscientes de cabeça para baixo pelas pernas em estruturas metálicas móveis, causando medo, estresse e desconforto nas aves, além de dor devido ao próprio peso, e possíveis contusões, luxações e até fraturas. Em seguida, a cabeça das aves é mergulhada em uma cuba com água eletrificada para induzir inconsciência imediata antes da sangria — processo nem sempre eficaz, causando a sensação não só do choque elétrico, mas também da dor do corte da sangria.
Em função desses problemas, os especialistas recomendam algumas soluções, como a adoção de linhagens genéticas que demonstrem cientificamente melhores resultados de bem-estar animal, principalmente um crescimento e ganho de peso menos acelerado, e o ajuste da lotação de animais dentro do galpão. Outras recomendações podem ser consultadas no Observatório do Frango.
Em relação às normativas nacionais, o relatório mostra que no Brasil não há amparo regulatório ou legislativo sobre bem-estar de aves de corte na criação comercial — tornando o processo ainda mais complexo e desafiador. Apesar de ainda não haver compromissos públicos de bem-estar de frangos no país, a Alianima acredita que é fundamental fomentar a discussão sobre o tema, a fim de catalisar a implementação de boas práticas pela indústria. “Almejamos por uma contribuição prática para que políticas de bem-estar animal sejam adotadas por corporações e órgãos públicos regulatórios no Brasil”, conclui Patrycia Sato.
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Sobre a Alianima – A Alianima é uma organização de proteção animal sem fins lucrativos, que trabalha em estreita colaboração com líderes da indústria alimentícia para identificar e abordar os principais desafios enfrentados pela cadeia de produção animal. A organização oferece parcerias, consultorias e suporte técnico gratuito às empresas comprometidas em melhorar as condições de vida dos animais, auxiliando na implementação de práticas sustentáveis e de bem-estar animal. Com uma equipe especializada, fundamenta todas as suas ações e materiais em dados técnico-científicos, com o objetivo de fomentar uma indústria mais atenta e preocupada com o sofrimento animal e um consumidor mais informado sobre a origem de seus alimentos.
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alianima.org | observatorioanimal.com.br
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